
Prefácio -2
“Panos para mangas”
Marcus Castanhola, autodidata antes de chegar à vida universitária, fundador de associações de bairros, de favelas e de condomínios, com larga militância em Água Santa (RJ), e que também foi representante da FAMERJ (Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro), é um homem profundamente preocupado com a sorte e o destino do povo brasileiro. Sua têmpera foi fabricada com o aço de nosso tempo, nas lutas em defesa da democracia, da justiça social e da cidadania. Castanhola escreveu este breve e bem fundamentado ensaio onde propõe e defende um modelo de sociedade que tem por fulcro a ação comunitária, contrapondo-a às forças tradicionais e estandardizadas de poder imposto de cima para baixo.
Neste ensaio, o autor manda às favas tanto as regras de neutralidade, coisa tão ao gosto do mandarinato acadêmico, quanto a submissão a credos e a cartilhas políticas partidárias. Trata-se de um texto redigido com clareza onde a razão e a emoção, o conhecimento teórico e o prático, caminham harmoniosamente, lado a lado. Todas as páginas do ensaio são permeadas pela convicção, adquirida na vivência das associações comunitárias, de que os homens são capazes de articular interesses e, coletivamente, assumirem a postura de sujeitos responsáveis por seu próprio devir.
As páginas do polêmico ensaio de Castanhola têm como fio condutor à convicção de que somente a construção de um pacto social realmente democrático pode ser capaz de criar condições para que a velha e sempre atual bandeira da igualdade, fraternidade e liberdade, desfraldada pioneiramente pela gloriosa Revolução Francesa de 1789, possa ser mais do que um sonoro jogo de palavras. Para tal, a argumentação do autor segue duas direções. A primeira direção, no sentido de demonstrar que os principais modelos apresentados como democráticos no século XX - quer seja a democracia liberal, o centralismo democrático (típico do socialismo real) e a chamada terceira via, de inspiração social democrata - não passam ou passaram de sucessões de mentiras e de malogros, uma vez que as formas de “democracias” citadas sempre mantêm a massa apartada da arena decisória da vida pública. A segunda direção, no sentido de retomar, em bases modernas, a democracia em sua proposta filosófica original, ou seja: a da democracia direta, onde, concretamente, a massa detém o cetro do poder.
Combinando princípios extraídos da filosofia e da teoria política, com conhecimentos históricos e os adquiridos na prática, Castanhola aposta na capacidade e na criatividade humana. Numa época em que praticamente pouco ou nada de novo tem sido dito, o sintético trabalho de Castanhola tem o grande mérito de, corajosamente, acreditar e propor. São idéias, são hipóteses e teses que merecem ser lidas, discutidas e problematizadas, pois dão panos para mangas.
* Aluizio Alves Filho: Doutor em Sociologia, UNB e Doutor em Ciências Sociais (América Latina), FLACSO. Professor do Mestrado de Ciência Política da UFRJ/IFCS (2002).

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