
MARCELO CORDEIRO DE SOUSA
Tem gente que escreve porque tem algo a dizer. Marcelo escreve porque tem algo a perguntar — e porque as respostas prontas nunca foram suficientes.
Natural de Goiás, ele conhece o Brasil que não aparece nos cartões-postais: o interior que respira devagar, onde as histórias crescem como mato entre as pedras e ninguém precisa inventar drama porque a vida já traz o suficiente. É desse chão de terra batida, de córregos esquecidos e casas com janelas quebradas, que nascem os livros da Coleção Lambari — uma série que trata adolescentes como o que eles realmente são: pessoas complexas enfrentando questões universais em cenários que a literatura brasileira teimou em ignorar por tempo demais.
Seus romances — O Segredo do Córrego Azul e A Casa das Janelas Quebradas — não são histórias sobre jovens. São histórias com jovens, escritas para quem sabe que crescer não é uma linha reta, é um labirinto. E que às vezes os monstros mais assustadores não moram em casas mal-assombradas, mas dentro da gente mesmo.
Inspirado por autores como John Green e pelos clássicos da literatura jovem brasileira, Marcelo escreve com uma sinceridade que incomoda — no melhor sentido. Ele não subestima seu leitor. Não entrega finais fáceis nem lições de moral embrulhadas para presente. Seus personagens tropeçam, duvidam, escolhem errado e têm que conviver com as consequências. Exatamente como pessoas reais.
"Quero que jovens do interior se vejam representados na literatura brasileira", diz ele, com aquela franqueza direta de quem não tem paciência para discursos vazios. "Nossas histórias também merecem ser contadas — e não como pano de fundo exótico, mas como o que realmente são: vidas inteiras, tão válidas quanto qualquer outra."
Quando não está escrevendo sobre invisibilidade, pertencimento e os fantasmas que carregamos, Marcelo trabalha com logística e distribuição em Rio Verde, Goiás — coordenando equipes, gerenciando estoques de vidro e alumínio, resolvendo problemas práticos que exigem organização, paciência e uma dose generosa de bom humor. É uma vida dupla curiosa: de dia, lida com notas fiscais e inventários; de noite, com metáforas e personagens que se recusam a obedecer o roteiro.
E talvez seja exatamente essa tensão — entre o concreto e o imaginário, entre o peso do vidro e a leveza das palavras — que torna sua escrita tão visceral. Ele conhece a textura das coisas reais. Sabe que cordas de violão machucam os dedos antes de fazer música. Que escrever não é inspiração mágica, é trabalho — o tipo de trabalho que você escolhe fazer mesmo quando ninguém está olhando.
Os livros da Coleção Lambari são, no fundo, convites. Convites para parar de fingir que está tudo bem quando não está. Para olhar de novo para aquilo que todo mundo ignora. Para entender que ser invisível não é defeito — às vezes é superpoder, às vezes é maldição, às vezes é só o preço de não caber nas caixas que os outros constroem para você.
Marcelo não escreve para agradar. Escreve para provocar, para fazer pensar, para lembrar seus leitores de que literatura não é entretenimento passivo — é conversa. E conversas de verdade exigem coragem: de fazer perguntas difíceis, de ouvir respostas incômodas, de aceitar que talvez você saia diferente do outro lado da página.
Se você procura histórias que confirmem o que já sabe, melhor procurar em outro lugar. Mas se está disposto a mergulhar em águas turvas, a seguir rastros que levam para dentro — não para fora —, a Coleção Lambari está esperando.
Assim como aquele córrego azul que reflete coisas que não deveriam estar lá.
Assim como aquela casa de janelas quebradas que guarda vozes do passado.
Esperando por quem tem coragem de olhar de verdade.
Você tem?
Marcelo Cordeiro de Sousa vive em Rio Verde, Goiás, e seus filhos Guilherme e Ana Clara — a quem dedica seu trabalho, suas perguntas e sua teimosia em acreditar que histórias podem mudar vidas.

Para quem ainda acredita que o mundo pode surpreender Eu tinha quatorze anos quando percebi que minha vida era uma mentira. Não no sentido dramático de "fui adotado e ninguém me contou" ou "na verdade sou bruxo e vou para Hogwarts". Era pior. Era a percepção lenta, sufocante, absolutamente aterrorizante de que nada de interessante jamais aconteceria comigo. Moro — morava — em vila tão pequena que
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