O leitor mais importante
Com 11 anos, na famigerada 5ª série, reparei nas meninas pela primeira vez. Com o corpo em plena erupção, o vulcão com maiores possibilidades de fazer estrago era o coração.
Perdidamente apaixonado, escrevi um texto sobre o meu primeiro amor. Por obviedade da idade, era cheio de lugares comuns, rimas bobas e muitos erros de ortografia. Fiz a besteira de mostrar para alguns amigos antes de entregar para a amada. Fizeram troça comigo por muitos dias, incluindo a destinatária da cartinha.
Já no colegial, uma redação sobre o que me deixava feliz ou triste foi muito elogiada pela professora. Ela falou bem sobre a minha criatividade no texto e que as situações descritas eram ótimos retratos da vida. Tirei uma nota 10 e isso me marcou para sempre.
Quando a internet tomou corpo no Brasil, comecei a escrever algumas histórias da minha infância e casos engraçados que tinha visto ou que alguém me contou. Mandava por e-mail para os conhecidos, e sempre alguém respondia dizendo o quanto tinha gostado e que eu devia continuar escrevendo. Com as redes sociais, os meus textos chegaram mais rápido e para mais gente, assim como as respostas positivas e as negativas.
As pessoas passaram a me abordar e comentar com mais frequência, o que me incentivava a escrever coisas novas. Uma amiga certa vez me mandou uma mensagem: “Nunca tinha lido nada seu, mas apareceu aqui na minha tela uma crônica e eu acabei lendo todas de uma vez só. Escreve mais!”. Nem sempre era uma boa história ou eu não havia contado direito, no entanto, percebi que aqueles relatos da vida real tocavam as pessoas de alguma forma.
Tive muitos empregos chatos só para pagar os boletos. Certa vez, um colega de trabalho entrou na sala onde eu ficava, parou na minha frente com as mãos na cintura e disparou indignado: “Cara, o que você ainda está fazendo aqui perdendo o seu tempo?”. Ele tinha acabado de ler um conto que eu publicara num blog e recomendou, com muita razão, que eu devia viver de escrever. Foi um dos conselhos mais generosos que alguém já me deu na vida.
Aos 32 anos, pedi demissão do trabalho chato e fui fazer um estágio na Folha de S.Paulo. Estava no último ano da faculdade de jornalismo e finalmente pude pagar os boletos escrevendo. Depois de 1 ano, fui contratado como repórter. Desde lá, participei de três livros de coletâneas, onde contei histórias das vidas de gente como a gente, desde um jornalista premiado até ex-presidiários.
A ideia de escrever um livro sempre me rodeou. No entanto, demorou até eu me sentir capaz de escrever algo honesto, verossímil e, ao mesmo tempo, mágico, assim como a vida é. Achei que a melhor maneira de fazer isso seria numa história infanto-juvenil.
Aos 41 anos de idade, apresento “Meu Cachorro Arranjou um Emprego” e convido você a se tornar o meu leitor mais importante.