João
da Cruz
nasceu em 09 de setembro de 1962, na pequena cidade de Cabaceiras, no interior
da Paraíba. Filho de agricultores, cresceu entre a lida da roça e os silêncios
das noites sertanejas, onde aprendeu, desde cedo, a escutar as histórias
antigas e as rezas sussurradas pelas mulheres mais velhas da comunidade. A
pobreza marcou sua infância, assim como o cheiro da terra molhada nas raras
chuvas e a fé inabalável que sua mãe cultivava diante das dificuldades.
Nunca chegou a
concluir o ensino médio. Saiu da escola cedo para ajudar o pai no sustento da
casa, fazendo de tudo um pouco: foi ajudante de pedreiro, vendedor ambulante e,
por um tempo, tocou caixa nas novenas da cidade. Sua maior escola foi a
convivência com as rezadeiras do sertão, mulheres que, com terços gastos nas
mãos e palavras de devoção, curavam males do corpo e da alma.
Foi dessa vivência que
nasceu seu único trabalho literário, O
Auto das Rezadeiras, peça escrita de forma simples, quase como se fosse
uma oração encenada, retratando a força, o mistério e a devoção dessas figuras
anônimas. João a escreveu sem pretensões, em cadernos de capa dura, durante as
noites, à luz de lamparina. Poucos conheceram a obra enquanto ele estava vivo,
pois João nunca buscou editá-la.
A vida inteira foi de
lutas e privações. Morou em casas de taipa, carregou água em lata na cabeça e
passou fome mais de uma vez. Apesar disso, mantinha um sorriso manso e um olhar
que parecia sempre distante, como se estivesse rezando por dentro.
No dia 02 de novembro
de 2002, aos 39 anos, João da Cruz morreu subitamente, vítima de um infarto
fulminante, na cidade de Jacaraú, para onde havia se mudado em busca de
trabalho. Sua morte deixou na comunidade um silêncio profundo, como se as rezas
tivessem perdido um de seus fiéis guardiões.
Foi apenas após sua
partida que sua irmã, Josefa de Souza da Cruz, reuniu os manuscritos amarelados
e publicou O Auto das Rezadeiras, garantindo que as palavras simples e
devotas de João não se perdessem com o tempo.
Hoje, sua obra é
lembrada mais pelo afeto do que pela literatura em si. Quem lê suas páginas
sente o cheiro da cera das velas, ouve o murmúrio das ladainhas e percebe que,
por trás de cada palavra, existe a vida de um homem simples, que encontrou na
fé e na palavra o seu último abrigo.
Nesta obra magnífica, João da Cruz inaugura o primeiro romance brasileiro e nordestino, dedicado a narrar a história de mulheres rezadeiras na região brejo do estado da Paraíba. O romance, de gênero híbrido, traz o realismo mágico, o auto e o gótico como estéticas que se fundem para traçar o sombrio enredo de mulheres, especialmente de três delas: dona Josefa, Penha e Ana, representando três geraç
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